AUTISMO
Do ponto de vista histórico, em 1908, Eugene Bleuler, psiquiatra suíço, usa pela primeira vez o
termo “autismo” para descrever um grupo de sintomas que relacionaria à
esquizofrenia. A palavra tem raízes no grego “autos” (eu).
A partir do último Manual
de Saúde Mental – DSM-5, um guia de classificação diagnóstica, todas as
formas de distúrbios do autismo fundiram-se num único diagnóstico chamadas Transtorno do Espectro Autista (TEA).
1.
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS:
O TEA é uma
condição geral para um grupo de desordens complexas do desenvolvimento
do cérebro, antes, durante ou logo após o nascimento.
Num primeiro momento, as características mais marcantes são
a dificuldade na comunicação social (visual e através da linguagem
falada > pode haver um atraso de
linguagem) e um conjunto de movimentos repetitivos realizados sem uma
finalidade específica (isso chama-se estereotipia).
Embora todos as pessoas com TEA tenham esse comportamento, haverá uma variação na manifestação
– na intensidade dessas características (daí a inserção no espectro), que podem
ser óbvias desde o início ou mais leves, que vão despertando a percepção dos
pais ou escola, gradativamente.
Assim,
os déficits mais significativos para prestarmos atenção são:
·
Déficit expressivo de comunicação verbal (atraso de linguagem) e não-verbal (não fixação de olhar), o que atrapalha
a interação social;
·
Dificuldade de manter relação de amizade
compatíveis com sua idade de desenvolvimento;
·
Excessivo apego a determinada rotina no dia-dia, onde padrões de
comportamento devem ser realizados como num ritual;
·
Interesses
restritos, fixos e intensos (matemática, música, animais, etc).
Com o passar do tempo as manifestações e/ou dificuldades
começam a surgir, como a dificuldade de aprendizagem, seja no âmbito
escolar ou mesmo nas atividades habituais do dia-dia, como por exemplo, tomar
um banho ou escolher uma roupa para vestir-se. Essa variação de déficit de
aprendizado dependerá da “localização” da pessoa dentro do espectro.
O paciente com TEA
pode estar vinculado a um grau de deficiência intelectual, dificuldade de
coordenação motora e de atenção. Pode apresentar associação com a Síndrome
de Déficit de Atenção e Hiperatividade,
dislexia e, já durante a adolescência um quadro de ansiedade e depressão.
Podem apresentar particularidades, como terem alguma
forma de sensibilidade sensorial mais desenvolvida dentre os cinco sentidos
(visão, tato, paladar, olfato e audição).
As mais chamativas, em regra, são relacionadas ao olfato > alguns “cheiros” incomodam
e limitam o acesso ao ambiente e
audição.
Em relação à audição,
por exemplo, um autista pode considerar um som de fundo, mal percebido por
outras pessoas, extremamente barulhento, causando agitação, ansiedade e até dor
física.
Outro ponto interesse de se notar, é que alguns autistas
são subsensíveis, não se incomodando com dores mais intensas, nem com
extremos de temperatura > não sentirem frio ou não se incomodarem com o
calor.
Vale
ressaltar que o autismo é uma condição permanente, a criança nasce com
autismo e torna-se um adulto com autismo e, como qualquer indivíduo, o autista
é uma pessoa única e todas podem aprender.
2.
CAUSAS:
As causas que provocam o autismo ou TEA são desconhecidas.
Relaciona-se a causas genéticas e fatores ambientais.
Um grande estudo realizado na Suécia e publicado na revista
científica médica JAMA (The Journal of
The American Medical Association), analisou mais de dois milhões de
crianças e concluiu que, em apenas 50% dos casos a hereditariedade explica o risco de desenvolver autismo.
O restante teria relação com fatores ambientais individuais e independentes como complicações no
parto, desequilíbrios metabólicos, exposição a exposição químicas tóxicas
durante a gravidez, stress e infecções.
Outra informação importante, apesar das inúmeras pesquisas não há comprovação definitiva da relação
entre vacinação e autismo.
3.
DIAGNÓSTICO:
O diagnóstico do autismo é basicamente clínico, ou seja,
não se confirma o autismo realizando exames, nem de imagem, como tomografia ou
ressonância, nem exames de sangue (laboratoriais).
O
diagnóstico vai se basear na avaliação comportamental direta da criança
por um Neuropediatra ou por um Psiquiatra Infantil e de uma entrevista
realizada com os pais ou responsáveis pela criança.
Extremamente importante observar o
comportamento da criança nos dois primeiros anos, se ela demonstra mais
interesse em objetos do que nas pessoas, se não reagem a brincadeiras
provocativas dos pais, o retardo da fala e a falta de fixação do olhar quando
estimulado.
Dessa forma, o diagnóstico pode ser feito até os 3 anos de
idade com maior segurança, o que facilitará a abordagem para tratamento.
O diagnóstico precoce contribuirá muito com os resultados
dos tratamentos propostos.
4.
INCIDÊNCIA:
Os meninos são 5 vezes mais acometidos que as meninas, mas
as meninas quando acometidas tem maior risco de epilepsia.
5.
ESTATÍSTICAS DO AUTISMO:
Ø 25 a
40% dos casos são NÃO-VERBAIS;
Ø 25%
dos casos pode ter um retrocesso marcante na linguagem JÁ ADQUIRIDA;
Ø 40%
dos casos tem déficit intelectual;
Ø 35 a
40% dos casos tem epilepsia;
Ø 70%
dos casos tem perturbação do sono;
Ø 25 a
50% dos casos tem Transtorno do Humor e Ansiedade;
Ø Até
40% das crianças com TEA podem ter medos e fobias
Ø 15%
dos casos tem alguma Síndrome Genética associada;
Ø Em
geral, falta destreza para o esporte;
Ø Dificuldade
para atravessar a rua - precisa de muito treinamento.
Ø Prejuízo
de atenção compartilhada ( triangulações )
- merece intervenção
comportamental;
Ø Baixa
coerência central ( tendência ao apego aos detalhes sem contextualizar o global
) - merece intervenção comportamental.
Ø Maior
tendência a enxaquecas, processos alérgicos e asma;
Ø Pouca
reação a dor.
6.
TRATAMENTO:
Não há
cura conhecida para o autismo.
O tratamento é baseado na intervenção comportamental
direcionado às necessidades individuais de cada paciente.
Características essenciais de
intervenções efetivas para crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA):
·
Iniciar os programas de intervenção
o mais breve possível;
|
·
Inicialmente, tratamento intensivo, 5 dias por semana, por no mínimo 5
horas por dia;
|
·
Suficiente atenção adulta,
individualizada e diária;
|
·
Inclusão de um componente familiar, incluindo treinamento para os pais.
|
·
Mecanismos para avaliação contínua, com ajustes correspondentes na
programação.
|
O
tratamento farmacológico (uso de medicação)no TEA é
empregado para tratar sintomas específicos
e para controlar sintomas-alvos associados, como a insônia,
hiperatividade, impulsividade, irritabilidade, auto e hetero-agressões , falta
de atenção, ansiedade, depressão, sintomas obsessivos, raivas, ataques de
cólera, comportamentos repetitivos ou rituais e não para tratar o autismo
propriamente dito.
7.
LEGISLAÇÃO:
8.
DESTAQUES FINAIS:
Atualmente
ocorre uma questão peculiar nos pacientes adultos:
A
maioria dos adultos NÃO SABE que é autista, embora 1 em cada 5 adultos,
principalmente homens, fazem algum tipo de acompanhamento psiquiátrico, por
algum motivo e, via de regra, ninguém sabe que esse indivíduo é autista.
As pessoas com TEA podem se destacar em habilidades visuais,
música, arte e matemática e gosto por temas específicos, como por exemplo,
animais.
Ainda:
·
A
maioria das pessoas com autismo é boa em aprender visualmente;
·
Algumas
pessoas com autismo são muito atentas aos detalhes e à exatidão;
·
Geralmente
possuem capacidade de memória muito acima da média;
·
É
provável que as informações, rotinas ou processos uma vez aprendidos, sejam
retidos;
·
Algumas
pessoas conseguem concentrar-se na sua área de interesse especifico durante
muito tempo e podem optar por estudar ou trabalhar em áreas afins;
·
A
paixão pela rotina pode ser fator favorável na execução de um trabalho;
·
Indivíduos
com autismo são funcionários leais e de confiança.
Por fim, são amáveis,
carinhosos, companheiros e acima de tudo trazem com eles uma enorme capacidade
de proporcionar aos pais , que os tiveram, a ímpar oportunidade de se tornarem
pessoas melhores, de se tornarem pessoas mais pacientes, de se tornarem pessoas
menos egoístas e mais disponíveis. Eles trazem o melhor deles ...
Anjos que são ...